𝔑𝔬𝔫 𝔬𝔲 𝔄 𝒱𝔞̃ 𝔊𝔩𝔬́𝔯𝔦𝔞 𝔡𝔢 ℳ𝔞𝔫𝔡𝔞𝔯

“Dom Sebastião foi traído no ‘momento vitorioso’ da batalha, ferido ao lutar até ao limite das suas forças &, convenientemente, dado por ‘desaparecido’, apesar de chegar a Arzila com alguns dos seus validos na madrugada do dia 5 de Agosto. Muito ferido, pálido como um fantasma, com o rosto coberto em pó & sangue, passou a noite na fortaleza & foi embarcado para o reino logo que o navio almirante da esquadra acostou. Desembarcou em Sagres perto do forte do Beliche em semi-inconsciência &, durante dois meses, foi tratado por monges de um convento próximo. Dom Sebastião seguiu depois para o castelo de Aljezur &, dali, para o convento da Arrábida, em terras do seu valido duque de Aveiro, Dom Jorge de Lencastre. Depois, veio a Lisboa &, seguidamente, para o norte de Portugal. Viajou muito, indo a Paris, a Roma onde teve audiência papal, & Veneza, onde foi preso & transferido para Cádis, em Espanha. Ajudado pelos duques de Medina Sidónia, foi trocado por um criminoso de delito comum & seguiu para a Bélgica, onde terá sido comandante da guarda pessoal de sua amada infanta Isabella Clara Eugénia. Aparece em vários quadros de Rubens, como um cavaleiro vestido de negro & ferido. Portugal soçobraria sob as patas dos traidores & dos Filipes. Mas o objectivo primário da campanha de África de Dom Sebastião foi plenamente conseguido, Alcácer-Quibir foi uma vitória muito amarga para o exército do turco Selim II, ali representado pelo xeque Mulei Maluk, pois teve cerca de três vezes mais baixas do que o exército de Dom Sebastião. A partir de Alcácer-Quibir, & na sequência da derrota naval em Lepanto, o Império Otomano deixou de se expandir & começou a retrair-se & a desagregar-se. A ameaça do fecho do estreito de Gibraltar, por controlo da costa africana a Sul, foi afastado. O sacrifício, sacro ofício, de Portugal & do seu rei teve um valor inestimável para a Europa, esta não seria a mesma sem ele. De facto, nos dez anos do seu reinado, implementou reformas com séculos de avanço, cuidou de um reino que se afundava nos ‘fumos da Índia’, combatendo a corrupção & sendo ‘justo para com os grandes & humano para com os pequenos’. Uma ignóbil traição, seguida de golpe de estado, fê-lo perder o seu exército & reino. Regressou muito ferido a um reino que se desagregava, tendo de andar escondido para que o não liquidassem. Tentou tudo em prol de Portugal, ajudado até por dois papas. Mas o reino definhava sob o jugo de poderes estrangeiros, de cariz (já) globalizante. Até hoje. Teve, pelo menos, 5 descendentes conhecidos: Uma filha de Dona Juliana de Lencastre, filha do duque de Aveiro, concebida dias antes da partida para a sua segunda campanha em África, & uma filha & três filhos da sua amada infanta Isabella Clara Eugénia, concebidos em Mariemont, já no século XVII, quando a infanta, então arquiduquesa, era governadora dos Países Baixos, casada com um ex-cardeal impotente. E as namoradas foram muitas... Há um relato muito curioso acerca delas no livro ‘Donas de Tempos Idos’, do conde de Sabugosa, no capítulo ‘Dom Sebastião e as Mulheres’. Morreu envenenado no convento dos Agostinhos em Limoges, com 79 anos, no ano de 1633, onde foi sepultado, na capela de S. Sebastião.” — ℭ𝔞𝔯𝔩𝔬𝔰 𝒮. 𝒮𝔦𝔩𝔳𝔞.
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